A menina que não confiava em ninguém

A menina que não confiava em ninguém

Em uma cidade da Califórnia vivia Jessy, uma jovem estudante de 17 anos que não tinha amigos e passava maior parte do tempo trancada no quarto. Ela morava com a mãe, Dona Stella, pois foi abandonada pelo pai quando só tinha 5 anos de idade. Ele havia dito para ela que iria viajar a trabalho e que logo voltaria. Já se passaram quase 13 anos e nada. Ele mentiu. Na verdade, ele fugiu com sua amante para Los Angeles. Desde então, elas se esforçavam para viver uma vida normal, principalmente Dona Stella, que estava sempre querendo ser presente o suficiente para que Jessy não sentisse tanta falta do pai. Jessy não era muito feliz. Apesar de ter uma mãe presente, ela sentia falta do pai. Queria ter amigos também, mas Jessy era uma adolescente estranha. Ela não confiava nas pessoas e para ela todos eram uma ameaça.
Certo dia, na escola, numa sexta-feira, um professor da turma de Jessy passa um trabalho que só pode ser feito em dupla. Ela logo se desespera, pois não fala com ninguém da turma. Permaneceu lá no canto, onde sempre sentava, quando Antony, um dos alunos, que também não era muito de conversar com os colegas de classe, se aproxima...
- Quer fazer o trabalho comigo? Também estou sem dupla.
Assustada, como sempre ficava quando alguém falava com ela, recusou...
- Não, vou fazer sozinha.
Ele insiste...
- Mas o trabalho não pode ser feito sozinho, senão eu também faria. Tem que ser em dupla. Vamos, é só um trabalho.
Jessy olha para ele com um olhar desconfiado e ao mesmo tempo confortado e aceita...
- Tudo bem então.
- Beleza. Você vai na minha casa ou eu vou na sua?
- Você vai na minha.
- Amanhã às 14:00 PM, pode ser?
- Sim.
- Onde você mora?
- À duas quadras daqui da escola, casa de dois andares, nº212.
- Não é tão longe. Te vejo amanhã então.
- Ok.
Jessy segue para casa analisando a possibilidade de Antony ser um psicopata que irá matar ela e a mãe na tarde do dia seguinte. Ela não confiava em ninguém.
Chegando em casa, ela conta para mãe em tom seco:
- Mãe, amanhã virá um garoto da minha turma fazer um trabalho escolar comigo.
- Tudo bem, filha. Ele é seu amigo?
Com uma expressão séria, Jessy responde:
- Eu não tenho amigos. Nem sabia da existência desse garoto. Praticamente estou sendo obrigada a fazer esse trabalho com ele.
- Tá bom. Não está mais aqui quem falou.
Jessy sobe para o quarto e pensa novamente na possibilidade de Antony ser um psicopata. Ela nunca levou ninguém à sua casa, nunca compartilhou sua vida com ninguém. Da última vez que confiou em alguém, esse alguém não cumpriu sua promessa.
Ela, então, bola um plano para se caso Antony tentar algo contra ela e a mãe. Ela pensa: "se ele realmente quiser nos matar, provavelmente tentará se passar por 'bom moço' primeiro, para ganhar confiança". Sentada na cama e com um olhar atento, ela começa a bolar um plano. Pensa: "Quando ele estiver se fazendo de 'bom moço', vou fingir que não desconfio dele e quando ele tentar atacar, eu ataco primeiro".
Jessy vai lá embaixo, observa a mãe preparando o jantar, sem que ela perceba, e espera que ela fique de costas para a gaveta de talheres, para que possa pegar uma faca. Dona Stella vai para a pia lavar algumas louças e, para a sorte de Jessy, fica de costas para a gaveta de talheres há uns 10 metros de distância. Dona Stella está bem entretida cantando e ouvindo rádio. Jessy vai, na ponta dos pés, em direção a gaveta. Ela consegue chegar sem que Dona Stella perceba, pega uma faca grande de corte, fecha a gaveta e ao virar para voltar, acaba pisando no prato de alumínio de Nick, seu gatinho de estimação, que faz um barulho alto e agudo. Dona Stella olha assustada para trás e Jessy, rapidamente, coloca as mãos para trás, escondendo a faca.
- Filha!? Que susto!
- Desculpa, mãe. Não queria te assustar.
Jessy está com um olhar assustado.
- O que você está escondendo aí atrás, mocinha?
- Nada, mãe. Eu só vim beber um pouco de água.
- Hum... Deixe-me ver suas mãos.
Ela engole em seco e rapidamente põe a faca por dentro da calça, na parte de trás, e cobre com o moletom que estava usando. Em seguida, põe a mão pra frente e mostra para a mãe...
- Tá vendo? Não estou escondendo nada!
- Tá bom. Daqui a pouco o jantar fica pronto. Não demore para descer e não esquece que mais tarde vamos assistir àquela série juntas.
- Tá bom, mãe.
Jessy sai da cozinha em passos acelerados e sobe as escadas para o seu quarto. Chegando lá, ela fica um tempo parada de pé analisando o quarto e pensando onde esconder a faca. Olha para a cama e pensa em colocar debaixo do colchão: "não, não. Eu não seria ágil o bastante na hora de pegá-la e ele atacaria primeiro". Olha para o criado-mudo, que fica próximo à cama. Na parte de cima tinha um abajur e uma pilha de livros. Ela olha e pensa: "aqui seria um bom lugar. Eu vou sentar deste lado da cama, então daria para ser bem ágil". Então, ela coloca a faca debaixo da pilha de livros.
Dona Stella grita:
- Jessy, o jantar já está pronto!
- Já vou, mãe!
Jessy desce para jantar.
Durante o jantar, Dona Stella percebe algo diferente no semblante da filha...
- Está tudo bem, filha?
- Sim, mãe. Por que não estaria?
- Sei lá. Você parece preocupada.
- Não, está tudo bem.
Dona Stella sente que ela está escondendo algo, mas muda de assunto, pois sabe que Jessy não iria se abrir, como sempre.
- O garoto virá amanhã mesmo?
- Acho que sim.
- Ok.
Depois da janta, Jessy volta para o quarto, deita na cama e volta a pensar no dia seguinte.
Já era sábado e, às 13:50 PM, a campainha toca. Dona Stella corre para atender. Era Antony...
- Boa tarde! É aqui que mora Jessy?
- Sim! Você é o garoto do trabalho escolar, não é?
- Sim, sou eu mesmo.
- Entre.
- Com licença.
- Pode subir e bater na porta do quarto. Ela está lá.
- Tá bom. Obrigado.
Antony bate na porta do quarto de Jessy. Ela se assusta, pois já sabia que era ele e não sabia o que aconteceria dali para frente.
Ela tenta disfarçar o desespero e abre a porta...
- Oi! Cheguei na hora, não foi? (Risos)
- Oi! Sim. (Risos) pode entrar, fique à vontade.
- Obrigado. Com licença.
- Pode sentar.
Antony senta aos pés da cama de Jessy e põe a mochila no colo. Ela senta-se próximo ao criado-mudo, onde estava escondida a faca para o seu "plano de contra-ataque".
- Vamos começar?
- Vamos.
Antony abre a mochila. Jessy fica atenta. Ele pega alguns materiais que eles utilizariam para fazer o trabalho e Jessy percebe que lá havia um canivete. O coração acelera e ela fica sem saber o que fazer. Ela decide não atacar por enquanto, mas fica atenta a todos os movimentos de Antony. Eles começam a discutir sobre o trabalho e Jessy percebe que ele a olha de uma forma psicopata. De repente, aleatoriamente, ele pergunta: "você gosta de contos de terror psicológico?". Ela se desespera mais ainda e faz que não com a cabeça. Ele abre a mochila lentamente, olhando para ela, quando saca o canivete e avança contra ela. "Vou te mostrar como é um", diz Antony com o canivete apontado para o pescoço de Jessy. Ela tenta gritar, mas ele tampa sua boca com a mão esquerda. Ele está rindo feito um delinquente e encarando-a. Jessy rapidamente puxa a faca que estava debaixo da pilha de livros no criado-mudo e tenta contra a barriga dele, mas ele consegue segurar a sua mão. Ela grita, mas ele logo a cala. "Vou acabar logo com você, depois com a sua mãe", diz Antony. Quando ele eleva o canivete para depois levá-lo ao pescoço de Jessy, ela consegue soltar sua mão que estava imobilizada por ele e empurra o canivete contra o pescoço dele. Ele ainda tenta relutar, mas acaba caindo morto na cama. Jessy, chorando, desesperada, não sabe o que fazer. Havia acabado de matar uma pessoa e livrou-se da morte. Por um instante ficou paralisada, sem reação. De repente, ela começa a ouvir uma voz distante: "Jessy... Jessy...". E aos poucos, toda aquela cena vai se desfazendo..."Jessy... Jessy...". Ela quase não ver mais nada..."Jessy, acorda! Não íamos assistir a série juntas?". Jessy acorda assustada, ofegante e com o coração acelerado. Tudo não passou de um pesado, uma crise de pânico e ansiedade. Ainda eram 20:00 PM de sexta-feira. Depois do jantar, quando ela deitou para pensar, acabou pegando no sono e teve este pesadelo, que parecia tão real.
Dona Stella, que a acordou, pergunta o porquê de ela está tão assustada...
- O que foi, filha? Estava tendo um pesadelo?
Ela prefere não contar para a mãe sobre suas paranóias.
- Não, mãe. Eu só me assustei. Vamos assistir.
Jessy começa a pensar e entender que tudo isso é maluquice. Nada irá acontecer. Por qual razão Antony faria aquilo? Não tem sentido. Depois ela vai até o quarto, retira a faca que havia colocado no criado-mudo e à põe de volta na gaveta.
No dia seguinte, Antony chega, super simpático. Ela de início se assusta um pouco, mas logo relaxa. Eles fizeram o trabalho numa boa e acabaram se tornando amigos tempos depois.
Jessy não tinha amigos por conta dessa desconfiança absurda que ela tinha das pessoas. Mas desta vez ela arriscou, deixou de lado a dureza e o medo e, por fim, se deu bem.
A menina que não confiava em ninguém, agora abre excessões.

Por: Bruna Gabriele dos Santos Santana

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